O semáforo
- Isabela Fernanda da Silva Serrano
- 12 de nov. de 2015
- 2 min de leitura
O dia era tranquilo como qualquer outro. Passarinhos cantavam em cima das árvores, dona Rita tricotava uma touca nova para seu neto, Marcos estava fazendo o seu treino de ciclismo, o guardinha do bairro estava cochilando em seu carro, Ana e Carla conversavam em frente o portão da faculdade e seu Carlinhos saíra para trabalhar. Enquanto dirigia, ele via seus amigos da vizinhança em suas atividades diárias.
O semáforo ficou amarelo. Como um bom senhor, seu Carlinhos foi parando até que o sinal ficasse vermelho. No segundo seguinte, outro carro parou na faixa ao lado com um som ensurdecedor e incompreensível. Seu Carlinhos buzinou, porém não teve sucesso com seu protesto. Ele pensou em sair do carro para chamar a atenção do motorista, mas era muito medroso para isso, além do mais, o indivíduo parecia ser mal encarado.
Dona Rita abriu a janela para saber o que acontecia. Marcos parou seu treino e foi até o local. Ana e Carla seguiram o som e chegaram até o semáforo. O guardinha despertou de seu sono e acompanhou algumas outras pessoas que se dirigiam até o lugar de onde vinha aquele som.
Em questões de segundos a cidade inteira estava ao redor do carro. Alguns jogavam objetos contra ele, outros chutavam o porta-malas, o guardinha batia no vidro e todos tapavam os ouvidos.
Marcos estava indignado com tanta falta de respeito. Dona Rita estava tentando gravar todos os detalhes para contar à Cidinha, sua confidente. Ana e Carla se perguntavam se era o menino estranho da sala da frente, um revoltado com a vida desprovido de beleza. Seu Carlinhos olhava para o semáforo e se perguntava quando o bendito abriria, já que o tempo parecia estar parado.
Bairro pequeno é assim. Qualquer coisa diferente no dia se torna atração. Até o Adilson, dono da barbearia, parou para prestar atenção. Ana e Carla chegaram a uma conclusão; era o menino da sala da frente. Enquanto elas caçoavam do seu jeito estranho, a música começava a diminuir. Seu Carlinhos começou a sentir o alívio nos ouvidos. As pessoas ao redor tiravam as mãos de suas orelhas gradualmente e diminuíam o volume das vozes. Dona Rita até se aproximou do frenesi. O som ficava cada vez mais baixo. A multidão cochichava e tentava descobrir qual seria a reação do motorista.
Então, todos se calaram. A única coisa audível era a nota de um violino sendo prolongada até o último segundo. A música parou. Como se aquilo tivesse sido o gatilho, o carro explodiu. O bairro todo morreu e o semáforo finalmente abriu.

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